segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Fado da Sina - Técnica Mista s/Tela - 100x100

Fado da Sina

Reza-te a sina
Nas linhas traçadas
Na palma da mão
Que duas vidas
Se encontram cruzadas
No teu coração
Sinal de amargura
De dor e tortura
De esperança perdida
Indício marcado
Amor destroçado
Na linha da vida
E mais te reza
Na linha do amor
Que tens de sofrer
O desencanto
Do leve frescor
De uma outra mulher
Já que a má sorte assim quis
A tua sina te diz
Que até morrer
Terás de ser
Sempre infeliz!...
Não podes fugir
Ao negro fado brutal
Ao teu distino fatal
Que uma má estrela domina

Cruzando a estrada
Da linha da vida
Traçada na mão
tens uma cruz
A afeição mal contida
Que foi uma ilusão...
Amor que em segredo
Nasceu quase a medo
Para teu sofrimento
E foi essa imagem
A grata miragem
Do teu pensamento
E mais te reza
O negro destino
Que tens de amargar
A tua estrela
De brilho divino
Deixou de brilhar
Estrela que Deus te marcou
E que bem pouco brilhou
E cuja luz
Aos pés da cruz


Um Fado de Rosas Feito - Técnica Mista s/Tela - 90x60



Um Fado de Rosas Feito


Um fado de rosas feitohttp://carmenlara.jimdo.com/
Que eu pudesse cantar,
Sem lamentos e ao jeito
Do meu amor encantar.

O Sol nasceu e apagou
A sombra dos meus caminhos,
Com palavras semeou
Que outros fossem meus destinos.

Uma árvore por podar,
Uma casa como o vento,
Onde eu pudesse estar
Sem tocar o sofrimento.

Um jardim de nuvens feito,
Rosas plantadas nelas,
Por pecado ou por defeito
Eu ser uma entre elas.

Olhar tudo lá do alto
Como visão se tratasse,
Acordar no sobressalto
Que a terra já não amasse.

E eu da janela visse                                          
O meu amor a passar,                                       
A outra nada me disse
E eu continuei a amar.

Um jardim de nuvens feito,
Rosas plantadas nelas,
Por pecado ou por defeito
Não abri mais as janelas.                            
                                                                                                                                  
Jónatas




                                          

Hoje Veste-te de Infinito - Técnica Mista s/Tela - 60x120


Hoje veste-te de infinito sê cidade, *
Goza a tua mocidade os teus anseios,
Geme os teus ais e os teus medos
Em meus braços que rodeiam teus enleios              


Geme em cúpula feroz e sedutora
Onde se cruzam os caminhos da cidade
Antes moura de conhecimentos profundos
Do que eram os astros e os mundos.


Rasto de sol e lua, mundo neblino
Goza plena meu amor profundo,
Rosa, azul, amarelo preguiçoso


Despertar que ao teu corpo tira o mundo
Gulosa veste que te veste como um hino
Cidade rio, meu porto do mundo.

Jónatas

* Fernando Pessoa


Lágrima - Técnica Mista s/Tela - 90x30


Lágrima

Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
E com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de querer tanto

Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Eu não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo

Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desepero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar

Amanhãs de Nevoeiro - Técnica Mista s/Tela 80x100



AMANHÃS DE NEVOEIRO

Viagens de sonho de marear,
Oceanos sem rota certa,
À descoberta sabe-se lá de quê;
Talvez de um amor que ninguém vê,
Ou de uma paixão secreta;
A noite é de desassossego,
O sol, o acordar do adormecido,
O tempo, esse é de fado encoberto,
Amanhãs de nevoeiro.

Jónatas


O Fado da Luz - Técnica Mista s/Tela 100x100

http://carmenlara.jimdo.com/
Tudo isto é Fado

Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
E o fado é o meu castigo
Só nasceu para me perder
O fado é tudo o que digo
Mais o que eu não sei dizer.

Saudades Marinheiras - Técnica Mista s/Tela 100x100


Saudades Marinheiras

Percorri as vielas da Mouraria, de Alfama,
Madragoa e Bairro Alto,
Elas eram como veias da cidade, operária e empobrecida.
O fado corria nelas como seu sangue fosse
E eu olhava com olhar de espanto,
Essas saudades marinheiras de descobridores do mundo.


O fado cresceu, descobriu os poetas
Que das suas tascas faziam morada,
Partindo à descoberta como caravelas fossem
E o castelo olhava-o lá do alto
Como se fosse Tejo em busca do mar.

As varinas morreram e foram passado,
Os pregões perderam-se no eco dos tempos,
Os jornais esqueceram-se que ali tinham morado,
O eléctrico passava como tinha passado.
E os poetas partiram, foram para o Chiado.
Menino já não sou,
Estou velho e cansado,
Como as estrelas se cansam de tanto céu estrelado
E o fado perdeu-se foi para outro lado.

Trinaram guitarras, murmúrios gemidos,
De um povo sem veias.
De um povo sem fado.
O fado morreu nos palcos do mundo,
Já não era fado, era outro fado,
Vendido e sem verbo, um fado acabado.